Advogado lança livro sobre divisão do Pará

O desmembramento do Pará é apenas um dos pretextos para o livro “Kondurilândia”, que o advogado João Bosco Almeida lança nesta semana em Santarém e em Belém. O primeiro lançamento do livro ocorreu no final do mês de abril, no município de Oriximiná, cidade-natal do autor e, de fato, a principal fonte de inspiração do livro.

Apesar do subtítulo “Idéias e registros na gênese da nova unidade federativa no oeste do Pará”, a obra ultrapassa a fronteira da polêmica sobre a desmembramento do Pará em dois Estados e trata da questão agrária, mercantil, quilombola, cultural e até da memória da cidade, cujas origens remontam a viagens do padre Nicolino à região.

João Bosco diz que “Kondurilândia” é um livro de pequenas teses sobre variados assuntos, todos tendo em comum a intenção de provocar discussões sobre o futuro da cidade. “Estou tentando dar o primeiro passo para o despertar de uma preocupação pelo diagnóstico e planejamento para políticas e estratégias na região. Acrescento a isso minha experiência de 15 anos assessorando empresas da área e ainda coloco muito de literatura”.

No livro, João Bosco constrói uma narrativa com capítulos tão distintos quanto interligados. Ele inicia pela mais remota origem do povo da região, os índios konduri, que aliás são a inspiração para o título do livro. Nos capítulos “As diferentes terras e gentes” e “As gentes pensam diferente”, João Bosco defende a idéia de que os filhos de Oriximiná têm características bem distintas dos paraenses em geral. “Não tem como negar que lá há diferenças de solo, de clima, e isso acaba influenciando na formação da população”, alega.

O escritor ainda dedica uma parte do livro para falar sobre a criação da Associação Comercial de Oriximiná, da qual foi o fundador, e dos planos elaborados pela associação para promover o crescimento econômico da cidade. Há ainda um capítulo em que trata do assunto do momento: a criação do Estado do Tapajós. A parte que ele considera mais polêmica trata dos grandes projetos instalados na região, como a Mineração Rio do Norte, e a problemática ambiental provocada pelas mineradoras e madeireiras. Em um dos mais incisivos capítulos (intitulado “A farsa dos Quilombos”), ele questiona o fato de 116 famílias quilombolas habitarem 3.710.000 metros quadrados de floresta.

O advogado também tem uma preocupação clara em tratar da cultura da cidade de Oriximiná. Ele lamenta não iniciar o livro com o significado da palavra que dá nome à cidade (significado esse que ele ainda está pesquisando) e se vangloria de ter conseguido dedicar um capítulo a padre Nicolino. João Bosco confessa que tentou ao máximo ser menos técnico e mais acessível, sem perder os critérios de cientificidade. Ele deixa claro que sua intenção é ver sua obra utilizada como fonte para o iníçio de várias discussões.

“Deixo de lado a questão politica e emocional. Quero mostrar que a nossa região é tão cheia de possibilidades e ao memso tempo sem a real noção da força que tem. Quero ver meu livro como um provocador, como um ponto de partida para outras pesquisas que aprofundem esses tópicos por mim abordados, culminando na valorização e moralização da coisa pública e conseqüente resgate da auto-estima de nosso povo”.

Em Santarém, na quinta-feira, 24, e na sexta-feira, 25, o livro será lançado, respectivamente, no campus universitário e na sede da Associação Comercial. No sábado, o lançamento durante a 5ª Feira da Indústria do Pará será realizado nos armazéns 4 e 5 da Companhia Docas do Pará.

 (Publicado em O Liberal, 18.05.01)