A Cerâmica Arqueológica de Oriximiná

         Seguindo um velho ditado popular na região que diz: “na terra preta tem careta”, o inglês Peter Paul Hilbert e sua mulher Eva Hilbert passaram dois anos pesquisando e catalogando as “caretas” encontradas na região de Oriximiná na década de 50. De volta à Europa, a datação científica informa a época provável de 2.000 antes de Cristo para sua origem. Mais uma civilização desconhecida na Amazônia, mais uma área de pesquisa histórica à espera dos arqueólogos, mais uma cerâmica que precisa ser conhecida pelos nativos da região.

         Peter Hilbert foi o primeiro e último a estudar a cerâmica dos “Konduri” como foi batizada por outro estrangeiro, o alemão Curt Nimuendaju, que a partir de 1923 estudou detalhadamente a cerâmica dos Tapajó, na cidade de Santarém.

          Lemos em Tupaiulândia a aparente casualidade dos achados de “caretas” nas ruas de Santarém, o que despertou a curiosidade dos habitantes e especialmente desse antropólogo alemão que já havia se radicado nas matas do Mato Grosso, para estudar os Gurarnis, inclusive tendo adotado o apelido Nimuendaju para substituir o sobrenome Unkel.

          Com base nos estudos de Nimuendaju é que vem para a Amazônia em 1952 o casal inglês e fica na região de Oriximiná, especialmente no vale dos rios Trombetas e Jamundá, como ele diz para o atual Nhamundá, chegando inclusive a pesquisar também em Terra Santa e Faro.

          É material de pesquisa indispensável para os estudiosos da região. Há uma empresa mineradora que assumiu encargos legais de patrocinar a retirada desse material arqueológico por pessoas habilitadas antes de descapar a floresta e sugar o solo vermelho da bauxita. O  conhecimento destes elementos históricos pela população e classe estudantil deve ser móvel suficiente para estimular e fiscalizar essas práticas salvadoras do espólio cultural dos Konduris.

          Elemento produzido pelos antepassados da região, a cerâmica arqueológica de Oriximiná vem integrar a categoria diferenciadora e identificadora culturalmente da região do baixo amazonas paraense. Faltam mais estudos e motivações aos nativos para se informar do conhecimento necessário das suas raízes, e a partir dessa matriz do saber local estruturar as bases da defesa do desenvolvimento regional.

* João Bosco Almeida é advogado em Belém com atuação em Oriximiná.